Um vazio difícil de explicar
- Elai
- 15 de fev. de 2016
- 2 min de leitura
Havia algo em mim que eu não entendia, um turbilhão de sentimentos depressivos que não deveriam estar ali, uma sensação de não identidade.
Era horrível ter tudo e sentir-se como se nada tivesse.
Dias em que mecanicamente levantava-me de minha cama, apenas para cumprir minhas obrigações, em que automaticamente respondia o que me era perguntado e executava o que se fazia necessário.
Sentia a ausência de algo, a ausência de mim; olhava-me no espelho e apesar do reflexo vagamente lembrar-me quem sou, o olhar nitidamente denunciava o desconhecido, denunciava a solidão, a angustia, os sentimentos revoltos e inexplicáveis de um sofrimento desmedido. Um sofrimento desnecessário. Um sofrimento que não existia.
Eu sentia falta de um abraço, de um beijo, de um consolo. Sentia falta de chocolate, ainda que o tivesse ingerido segundos atrás. Sentia falta de sexo, ainda que o tivesse feito há poucas horas. Queria dormir, ainda que tivesse acabado de acordar. Precisava incontrolavelmente e de todas as formas possíveis, preencher o vazio que ansiava por algo, assim como alguém no deserto anseia por água.
Não consigo explicar em simples palavras, a sensação de sentir-se ninguém. Não consigo definir qual a sensação de sentir vontade de algo e não ser capaz de saciar, por simplesmente não entender.
A verdade é que talvez eu não me ame, eu não me deseje, não me queira, por realmente não me suportar. Afinal, se eu mesma não me suporto, porque mais alguém deveria?
Me relacionei com homens, mulheres e gays. Realizei todas as fantasias que eu poderia ter. Quebrei meus tabus, e experimentei tudo o que tive vontade. Nada mudou. Continuei vazia, talvez até mais vazia, sabendo que ainda que tudo eu tocasse, tudo eu tomasse ou possuísse, nada seria meu, nada me saciaria, nada me preencheria. Tudo foi superficial, fútil, inconsequente e momentâneo.
O superficial, o fútil, o inconsequente e o momentâneo são apenas prazeres vagos, prazeres que talvez não precisassem existir. Prazeres que sozinhos não completam nada, nem ninguém.
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